Educação de Meninos
19/06/2013 10:13
Sentimentos não são Permitidos, por Rhett Smith
Como nossa reação a meninos sabota o relacionamento deles
Algumas semanas atrás, meu filho de cinco anos de idade, filha e filho de dois anos de idade estavam brincando no quintal com os amigos. Em diversas ocasiões durante o seu jogo, os dois filhos vieram até a mim para me informar que tinham se ferido.
Todas as lesões foram pequenas, um arranhão aqui, outro ali. Não era a lesão que precisava de atenção. Eles queriam que o pai deles prestasse atenção neles. Eles queriam saber que eu me importava com eles e os amava. Eles queriam saber que eu estava presente para consolá-los. Depois de eu confirmar o seu machucado e dar-lhes um abraço e um beijo, eles voltaram imediatamente à brincadeira, como se nada tivesse acontecido.
Suponho que muitos de vocês já tenham experimentado o mesmo cenário, seja com seus próprios filhos ou com os dos outros. Você pode até se lembrar de uma história ou outra de seus pais ou alguém importante para você mostrando o mesmo cuidado.
[...]
quando minha filha vinha me pedir consolo, eu era geralmente muito carinhoso no meu tom e atenção. Eu era gentil e enfático com relação a seu machucado. Eu a deixava sentar no meu colo e ficar abraçada até se sentir confiante de que o machucado iria sarar. E quando ela estava pronta, ela saía correndo.
Mas, com meu filho, notei que, quando ele vinha em busca de consolo, eu era mais abrupto. Não é que eu não me importasse ou não tivesse sido enfático quanto ao seu machucado. É que eu estava menos disposto a deixar ele ficar naquele ponto emocional muito tempo. Eu queria que ele soubesse que estava bem, que ele era resistente, e ao invés de deixá-lo sentar-se no meu colo um longo tempo, eu o incentivava a sair correndo. "Você é um menino tão grande! Vá pegá-los " é o que você me ouviria dizer.
Enviando Mensagens Contraditórias aos nossos filhos
Em Eu Não Quero Falar Sobre Isso, o terapeuta e autor Terrence Reak fala sobre a diferença entre a forma como criamos meninos e meninas em nossa cultura. A pesquisa mostra que os meninos começam a vida com tantos sentimentos e emoções quanto as meninas, mas desde cedo muitos meninos começam a ouvir uma mensagem diferente, com relação às meninas, sobre a sua expressão desses sentimentos. Pais, mães, professores, treinadores e amigos, muitas vezes, começam a dizer aos meninos coisas como:
"Seja homem"
"Não seja covarde"
"Levante-se"
"Pare de chorar"
Estas são apenas as mensagens que são adequadas de se escrever. O número de homens que se sentam à minha frente na terapia e contam histórias de como eles se lembram de seu pai, a mãe, ou o treinador dizendo-lhes: "Pare de chorar" ou "Meninos não choram" é bastante surpreendente. Eles podem ter 20, 30 ou 60 anos de idade, contudo a lembrança é muitas vezes tão fresca em sua mente como se tivesse acontecido ontem.
Jan Hoffman escreve para o New York Times sobre o trabalho do Dr. Niobe Way e seu livro Segredos Profundos: Amizades de Meninos e a Crise da Conexão. Citando pesquisa de Way, o artigo afirma:
Apesar do estereótipo dos adolescentes serem criaturas emocionalmente sem ouvido, resmungonas, que adoram esportes e correr riscos, [Way] disse que a necessidade de uma amizade íntima é tão forte quanto é para meninas. Os meninos no início da adolescência falavam abertamente sobre essas amizades para Dr. Way e seus pesquisadores, reconhecendo a importância de ter um melhor amigo em que tanto se pudesse depositar confiança quanto guardar os seus sentimentos mais íntimos .... Na verdade, o encerramento desses relacionamentos é parte do que transforma meninos em homens taciturnos e emocionalmente desconectados.
Eu corroboro o que Real escreve, já que eu também noto na vida do meu filho sua ampla gama de sentimentos, e seu desejo de vir a mim com eles. Mas ele tem apenas dois anos e eu já estou lhe comunicando que os seus sentimentos não são válidos. Quanto mais freqüentemente essa mensagem seja comunicada a ele, mais é provável que ele perceba que não é seguro para ele expressar como se sente.
E quanto mais freqüentemente ele perceba que não é seguro, mais ele pode, eventualmente, aprender a encontrar saídas mais destrutivas para esses sentimentos. O psicólogo e autor Archibald Hart escreve: "Ser homem pode ser perigoso para a sua saúde, especialmente quando você tem que manter a sua identidade masculina a todo custo."
Escape de Sentimentos
Portanto, a questão torna-se: para onde vão todos esses sentimentos se normalmente os meninos não estão autorizados a expressá-los? Se não é seguro dizer à mamãe e ao papai, ou professor e treinador como ele se sente, o que o garoto vai fazer? Existem várias opções para um menino escolher como expressar os sentimentos que estão aumentando. Como eu escrevo em O que significa ser um Homem, descobri em meu trabalho como pastor e terapeuta que a maioria dos meninos escolhe as estradas ou da passividade ou da agressão.
Os meninos que descobrem que não é seguro expressar seus sentimentos, muitas vezes tornam-se passivos, retraindo-se e desligando-se emocionalmente. Outros podem se tornar agressivos, recorrer à violência e à raiva como formas de expressão. Ambos são meios de fuga, e levam a todos os tipos de problemas na vida dos meninos e das pessoas ao seu redor. A raiva e a violência, por exemplo, muitas vezes são uma forma tolerada de expressão para os meninos em nossa cultura. Nós os aplaudimos por sua violência no campo ou escola, e minimizamos a preocupação com sua fascinação - através de jogos e filmes - com a violência na tela. "Meninos devem ser meninos" é algo que se pode argumentar. Outra forma de fuga para os meninos mais velhos é a pornografia e várias formas de vício em sexo. Estes são locais, muitas vezes, onde um menino expressa o que sente, e se sente seguro, porque uma tela de computador não exige nada de você, nem envolvimento emocional, nem sequer uma noite.
Quando um menino aprende que a expressão de sentimentos não é segura para ele, ele pode se tornar um menino que um dia vai namorar ou até mesmo se casar sem saber como comunicar-se de maneira saudável. Sua esposa pode dizer algo para mim na terapia como: "Eu não tenho nenhuma idéia do que está acontecendo em sua cabeça. Ele nunca fala comigo! "Ou o marido sentado na minha frente só sabe reagir com raiva, gritando, causando medo em sua esposa e filhos.
Assim, como nos comunicamos com os meninos sobre seus sentimentos não é apenas um problema para aquele menino, hoje, é um problema para aquele menino mais tarde na vida, afetando potencialmente seus futuros relacionamentos e empreendimentos.
Extraído de Feelings Not Allowed - How our response to boys sabotages their relationships, por Rhett Smith
Leia o artigo na íntegra, em inglês, em https://fulleryouthinstitute.org/articles/feelings-not-allowed
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